Aquele medo da morte

De uns tempos pra cá tenho andado com medo da morte. Diferente do medo de desconhecido que qualquer religião possa abarcar. Tenho medo de morrer sem ter sequer vivido. Vivido as coisas que sonhei pra mim, sem ver o filho (amor maior neste mundo) crescer, viver. Medo de sentir saudades caso não seja um fim definitivo, medo de deixar saudades caso seja.

Cada vez que o meu peito doi, que existe a dificuldade de respirar, que a pele abre em ferida por qualquer tipo de nervoso. É o corpo avisando sobre o que a mente já não suporta mais.
Tenho estado cansada de pessoas, de conflitos, de promessas. Querendo silencio sem dor. Querendo viver e ver viver.
Escrevi por muitos anos um blog, no melhor estilo “querido Diário” e me fazia bem. Um dia percebi que já não escrevia pra mim, escrevia para quem me lesse. Era falso, artificial e já não me trazia a mesma paz de espirito que eu conseguia antes com meus escritos.
Hoje escrever sobre direitos humanos num trabalho voluntario que me esgota a cada dia, não por achar que não valha a pena e si porque o assunto também me desgasta, já não me basta.
A ausência de tempo pra que eu possa olhar pra mim, a cobrança alheia para que eu não faça , afinal é preciso ser forte, já não é mais suportável para meus ombros.
Que neste espaço eu consiga escrever e repensar minhas necessidades, minhas paixões, meus sonhos.

Ao escrever essas palavras que a meus olhos parecem tão desconexas, mais como um desabafo e menos como um texto, percebo o quanto da cobrança social esta presente nelas.

Tenho medo de morrer por estar muito acima do peso e meu corpo estar sucumbindo, mas me gosto gorda e entro em conflito. Não quero escrever sobre dietas por se tratar de um mercado que repudio, mas sinto a necessidade de fazer uma para que eu não me envergonhe mais ao passar numa catraca, ou que não me sinta mal ao perceber que as pessoas evitam sentar ao meu lado num ônibus lotado (e claro o fazem pelo combo de fatores que compõem a minha figura). Gosto de quem sou, mas não gosto de ser massacrada pela sociedade quando sou quem sou. Ombros que não toleram mais a cobrança do “vencer na vida” de ter o emprego dos sonhos, de ganhar bem, de ter emprego formal, casa, filho modelo, marido modelo, ser bonita, ser feliz. Penso: felicidade pra quem?

Quero escrever sobre minhas metas, elas possíveis ou não, sobre ter uma casa com mais de uma janela, que a luz do dia entre e as plantas floreçam. Que a gente possa ser feliz com o modelo de familia que escolhemos pra nós, com comida boa no fogão e som alto na sala. Que o emprego me faça não sofrer ao sair da cama e não adoecer num ambiente cinza. Sei que não é o meu lugar social, mas ficar num lugar só nunca foi a minha.

Num universo de coisas que amo tanto, porque não estou plena? Porque não posso ser plena. Porque a ruga da cara fechada? Que não desamarra desde os 8 ou 9 anos?O que exatamente estou sentindo agora? É medo da morte ou medo de já estar morta?

Por mais que pareça ou seja imaturo, já não me importa. Eu que me incomodo quando não me vêem , quando me taxam de algo que nem de longe eu sou ou faria, já não quero mais fingir, mas já não quero mais explicar.

Todos os anos nos meus aniversarios digo: Este será o meu ano. Contando que o tempo seja justo e bondoso comigo. Não tem acontecido. Menos pelo tempo e muito mais por mim.

Enfim fiz meus 35, cinco ciclos de vida. Acredito nestes ciclos e nas mudanças e acho que este pode ser positivo. Que eu consiga enfim a força pra executar as mudanças que eu acho necessárias e que a julgamento de outrem não turvem meu caminho.

Escrevo pra me desafiar a ter a vida que quero ter, para apagar o sentimento de inadequação, para transformar o medo da morte num sopro de vida. E o que você pensa, já não me importa mais.

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