Carta para amores Platônicos — #001

Essa é uma série — de boas e más decisões.

Você foi a única pessoa que terminou alguma coisa comigo e eu não chorei. O sentimento era diferente. De vez em quando eu me lembro daquele beijo não correspondido que marcou o que era pra ser a minha retirada da sua vida. Eu sempre me retiro, não aprendi ainda como evitar. Você estava apaixonada demais pela menina branca, e todos os dias eram pra ela.

Não doeu você ter me preterido, doeu eu não caber na liberdade em que a gente acreditava. Sai de cena porque eu queria te ver feliz. Vai ver eu gostava mesmo de você.

Você foi a única pessoa no mundo pra quem eu me declarei. Da maneira mais mambembe possivel é verdade. Eu não sei falar daquilo que é rico pra mim sem transformar em piada, em história pra contar na mesa do bar.

As vezes me lembro de você me encostando na parede do seu dormitório e me dizendo — Dá essa mãozinha aqui. Aprendi mais com você em uma noite do que teria aprendido qualquer coisa sobre amores entre mulheres enquanto assistia The L Word.

Hoje quando eu acordei, sua gracinha na rede social foi a primeira coisa que eu vi. Eu ainda dou muita risada com você. Aquilo que devia ter sido um amor virou a amizade mais inusitada pós 2014. Seis anos. Por cinco você acredita que eu pensava de vez em quando no que poderia ter sido?

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Um dia enquanto a gente fazia comida, você se apoiou na pia daquele apartamento que acolhia tanta gente e tinha o numero que eu não esqueço, e me disse que um dia queria ter uma família. Eu lembro que eu pensei que conhecendo você como eu conhecia, aquilo demoraria demais, e que era uma pena eu não saber esperar. Parece que foi meio premonitório mesmo.

Será que se a gente não estivesse envolvida na bagunça de outra pessoa teríamos nos apaixonado pra valer? Deixado queimar tudo que tinha pra queimar?

Eu deixava bilhetes espalhados pelo seu quarto, mas não me lembro exatamente o que eu escrevia. Espero que tenham sido bilhetes bonitos. Minha única certeza é de que eles representavam um sentimento contido. E o medo de falar demais, demonstrar demais. Você era tão séria pra algumas coisas, ainda é, eu queria que você me achasse um mulherão e não a menininha que eu era quando estava perto de você.

Eu ouvia sua voz e derretia, você sorri e eu ainda derreto. Te vejo circular pelo mundo com suas garotas e continuo feliz. Você segue despertando paixões e vivendo amores. Eu sigo tentando descobrir como se faz isso.

Hoje de manhã senti saudade de ouvir sua risada, de te ver discutindo politica furiosamente, do deboche constante e de pegar na sua mão.

Acho que vai ser pra sempre assim, um gostar que não se explica, amizade que quero pra vida toda. Mas ja faz tempo que eu perdi a coragem de conversar com você sobre coisas banais pela internet. É como se existisse um muro cheio de vergonha e medo. Não quero que você ache que eu tento me aproximar com alguma intenção, mas eu sempre acho que é assim que você se sente.

A grande verdade é que te gosto como minha grande amiga, mas se você quiser, eu quero.

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