“A GENTE ACEITA O AMOR QUE ACHA QUE MERECE”

Fazia muito tempo que eu não dava uma choradinha. Mas hoje foi o dia. E não é que eu esteja doente, nem toda emoção é sintoma.
Hoje sem conseguir me concentrar numa atividade completa, fui buscar refúgio sem nem perceber que era isso que eu fazia. Parei numa frase que escrevi:

“sou a pessoa de baixa manutenção. vc me coloca ali num canto na sombra e eu vou sobrevivendo”

Falávamos sobre o fato de que a ficha está caindo pra mim sobre como a solidão tem se tornado um fardo. Não tô falando de relacionamentos, estou falando da vida. Quer um exemplo? Redes de apoio são um dos pilares mais importantes pra uma pessoa Bipolar ficar saudável, a gente é estimulado a criar essas redes, que normalmente é feita de família, amigos, médicos, companheires. A minha rede de apoio é uma micro rede, muito importante não duvidem disto, mas micro, que não tem como dar conta de tudo o que acontece na vida de alguém, que não vai estar disponível pra conversar, pra acolher, pra entender, orientar quando for necessário. As pessoas tem vida própria e por isso as redes de apoio precisam ser expandidas. Minha rede de apoio fui eu por um longo tempo, e agora minha rede tem meu médico e mais 2 pessoas, formamos o nosso quilombo. E é por isso que pra criar uma criança a gente precisa de uma aldeia, e pra tocar a vida também. Expandir nosso mundo é importante.

Cuidado é uma palavra complicada.

Eu nunca permiti que alguém cuidasse de mim, me incomodava. Eu sempre menti sobre dor, doença, ou qualquer necessidade. Precisar me deixa vulnerável, eu cresci acreditando que era o errado. No entanto eu estou sempre no lugar do cuidado. Eu acolho, eu cuido, eu educo, eu estou disponível, eu posso esperar, eu entendo. Mas também nunca tive uma vasta oferta de cuidado. Normalmente funcionava na base da troca. Nunca permiti porque nunca achei que mereci, e que dureza encarar isso assim, verdade nua e crua.

“A GENTE ACEITA O AMOR QUE ACHA QUE MERECE”

Cuidado é sobre enxergar o outro. Não me parece difícil.

Meu choro não foi pela tristeza do que é a vida de muita mulher preta, mas por ter que quebrar o “imenso monólito” do se bastar e aceitar que eu preciso de cuidado, e não quero mais aceitar menos que isso.

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