Tá eu chiei porque ninguém no cursinho falava comigo, hoje cheguei a conclusão de que é melhor assim.
Estava eu sossegada na fila pra pagar a minha mensalidade e na minha frente tinha uma mocinha (com seus 20 , 20 e poucos anos). Ela pagou a mensalidade dela e ficou por ali, no balcão. Depois de um comentário da garota da tesouraria sobre meu enorme nome novo , a tal mocinha acabou puxando papo conosco. A princípio parecia tudo muito saudável, ela estudava veterinária, mas segundo ela , veterinária não dava grana e ela ia tentar medicina. Ficamos ali falando de ex-faculdades, de tempo, de dinheiro, ela contou que a amiga não conseguia ficar sem sair de fim de semana e disse que ficava em casa este ano pra poder curtir numa boa o resto da vida e tal. Num certo ponto do assunto a mocinha da tesouraria perguntou o porque EXATAMENTE dela mudar, se não era a mesma coisa ser veterinário ou médico, que os dois tinham que montar consultório e tal. Ai começou o problema , a resposta foi a seguinte : Você já viu médico andar de fusca? Não né? Mas veterinário tem um monte.
Devolta ela já ganhou um sorriso amarelo meu e da outra mocinha, ela poderia ter parado ai e mantido a pequena simpatia que ela já havia adquirido da nossa parte ,mas ela foi mais longe. Veio com a conversa seguinte : Se você quer conhecer pessoas decentes você vai na praia as 7 da manhã, porque as 2 só tem vagabundo. Que a irmã dela saiu numa segunda feira e conheceu um cara , mas o cara era cobrador do ligeirinho, então ela concluiu, de que adianta ser bonitinho se ele é pobre. Teve mais coisa mas as melhores foram essas : Casa de pobre é sempre assim , você vai na cozinha do pobre e na torneira tem um pedaço de mangueira pra água não espirrar, pra cobrir as panelas os pobres colocam um “prastico” pra não molhar de novo ( nunca vi isso mas…), no banheiro do pobre nunca tem janela é sempre um vidrinho ( ela queria dizer vitrô) que o pobre pinta de laranja (zarcão) , e na pia do banheiro do pobre tem sempre um copo de vidro com as escovas de dente dentro. Nesse ponto eu já estava passada, tinha a esperança dela estar falando em to de brincadeira no melhor estilo Caco Antibes, mas era sério e a mocinha da tesouraria já não sorria mais, e o porteiro e uma outra moça apareceram pra ouvir também. Eu moro em Almirante Tamandaré ( não sei onde é ) – no que a outra garotinha disse – Credo , isso também é lon… – e não terminou , a garota phd e pobre interrompeu indignada – Eu moro lá , mas na parte boa do bairro, na minha janela passa um sofá ou uma televisão e fica aberta e ninguém nunca roubou nada , nem entrou. As vezes a gente deixa o carro aberto e ninguém leva. Porque o lado onde eu moro é o melhor, mas do outro lado da rodovia tem perigo , porque lá tem bandido, drogado e é onde moram os pobres . Ai foi o fim, meu único comentário foi o de dizer que é complicado usar isso como critério pras escolhas da vida, afinal minhas escovas de dente estão num copo de vidro e eu nunca em toda a minha vida tive algo diferente de um vitrô no banheiro das casas onde eu morei , mas que no entanto eu estudava no mesmo lugar que ela. Nisso a garota do balcão disse que as escovas delas também estavam num copo de vidro. A phd em pobre então chamou a gente pra tomar um café , e nós recusamos é claro. Eu ia dizer que eu planejava fazer um “puxadinho” pra mim ,mas achei que ai seria demais.
Será que esse tipo de coisa só acontece comigo? Só pode. Mas achei até graça depois. É cada uma , faz todo o sentido do mundo a propaganda do festival de Teatro de Curitiba – CURITIBA TEM CADA PEÇA !!!
CURITIBA TEM CADA PEÇA
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