Já não sei mais que dia é hoje. Faço o esforço diversas vezes no dia, olho celular, calendário e agenda. Às vezes desconfio que se olhar em apenas um dos recursos eu vou errar e me perder pra sempre.
Não faz muita diferença a data, os dias têm sido iguais. Mas eu sei que já faz um mês. O último dia que estive na rua foi no 12 de março uma quinta feira. Hoje é 12 de Abril.
Quando olho pra trás é como se eu tivesse perdido ou aberto mão de tudo aquilo que eu entendia por mim, ou como meu, até o dia 12. Tudo que eu sabia sobre mim ficou ali, é como se eu fosse tela em branco.
Antes disso tudo acontecer eu estava tentando descobrir do que eu gosto, minha cor preferida, o lado da cama , os sabores, as manias. Não fazia ideia do que era eu e do que eram os outros.
Eu ainda me pego tentando fazer coisas pra agradar pessoas, mas agora eu percebo quando eu começo a fazer isso.
Tenho bebido mais do que eu já bebi em toda a minha vida. Com toda vergonha do mundo não tenho mais conversado com a minha psicóloga. Não consigo pronunciar ou nomear o inominavel. Descobri que minha cor preferida é verde, mas por alguma razão ainda pinto tudo de azul. Amo cozinhar mas essa é uma atividade que eu não consigo mais fazer. Minha relação com comida está o caos. Reconheci que gosto de musica classica, descobri que que choro com espetáculos de dança mas não tanto quanto com a ópera, mesmo sem nunca ter visto nem um, nem o outro ao vivo.
Sigo no esforço de sentir qualquer coisa. Ciúme, raiva,desejo, tristeza, pavor. Qualquer coisa. Eu mando mensagens pra ex amores, me apaixono por alguém diferente todos os dias. Não quero ninguém, mas eu queria querer e queria que me quisessem também.
Está tudo tão desproporcional.
Eu passei a rir muito de mim mesma, eu gosto da minha companhia. No meu último casamento nós brincávamos que eu era mais de uma, sempre me referia a mim como Nós. — Nós estamos felizes, Nós vamos tomar sorvete, Nós achamos aquela roupa bonita. Aqui dentro de mim é assim, muitas em uma só e a gente se dá super bem. Inclusive rimos muito do meu corte de cabelo alternativo.
Queria poder dormir até mais tarde, queria conhecer algum vizinho, queria que minha respiração não estivesse curtinha, queria não precisar deitar no chão do banheiro pra ver se isso passa.
Preciso contar que eu tenho a sorte de conhecer um príncipe, e dele se preocupar em me mandar céu aberto, passarinhos, flores e imagens bonitas todos os dias, trazendo um pouquinho lá de fora aqui pra dentro. Talvez principes possam mesmo ser encantados.
Minha cabeça está repleta de questões sociais, politica, micro revoluções. Estou sempre ocupada com um medo real de perder a noção do tempo. E eu nem sei porque isso me preocupa tanto se amanhã é só um conceito.
Isso tudo poderia mesmo ser um grande dia da marmota, onde a única preocupação fosse sair desse dia que só se repete, poderíamos ter tido a sorte do dia repetido ser um dia bom. Ou a sorte de saber como as coisas vão acontecer pra poder mudar tudo, todos os dias.