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Você tem um e-mail — Leia estas mulheres

Estou no meio de uma jornada particular sobre mim mesma, separando joio do trigo, desistindo dos murros nas pontas das facas, (re)descobrindo amores e tentando me conectar comigo, com a pessoa que eu sou e consequentemente com quem está a minha volta.

Nesse processo, por escolha pessoal tenho mergulhado em novas narrativas de vida, história de outras mulheres, escrita e o trapalho de outras mulheres.

Me descobri admirando pessoas só porque “todo mundo admira” ou “é uma grande representante da negritude feminina” entre outras relações impostas. Pouco dizia sobre quem eu sou ou do que gosto, mas muito diz sobre as minhas obrigações e aquilo que eu acredito que devo fazer. Me propus este mergulho em experiencias novas e escolhi me aprofundar no trabalho de mulheres que embora eu conhecesse eu ainda não tinha tido tempo, ou o olhar atento que o material que chegava pra mim necessitava.

Livros que eu ainda não tinha lido, de autoras que eu desconhecia e não me interessava porque de uma hora para outra pareciam ter narrativas que não me tocariam em nada, com histórias que certamente seriam “menores” do que eu esperava. Desconectada, esta era minha relação com algumas mulheres, escritas, opiniões. E em que momento este sentimento surgiu? Em que momento a bolha se tornou maior que meus desejos, paixões e o pior — a minha curiosidade.

Estar próximo de mulheres com uma vivencia muito semelhante a minha me trouxe inúmeros benefícios, me trouxe identidade, noção do meu lugar no mundo, fechou inúmeras feridas, mas nunca deixou de ser solitário. Em nome do todo eu fui desaparecendo. E isto nada tem a ver com as pessoas que passaram pelo meu caminho e sim como eu encarei o caminho e as necessidades que foram se apresentando nele.

Mas o caso é que estou me permitindo sair da bolha e tem sido uma viagem muito louca, resgatar prazeres cotidianos que pra mim são um grande barato, mas com uma certa constância eu me dizia: “Não é pra mim”, “Não é e nunca será sobre mim” , fora o bom e velho “o que as pessoas vão pensar?Provavelmente que enlouqueci, ou que estou vivendo um personagem e não quero ser lida desta forma”. Quer saber? Um imenso foda-se. São muitas regras impostas em nome de algo que eu nem sei o que.

Neste resgatar de coisas cotidianas prazerosas e dentro da minha proposta pessoal de reservar um tempo pra mim e para o autocuidado eu resgatei o prazer pela leitura, tenho lido coisas que eu gosto de ler, a maioria não acrescenta uma virgula sobre minha negritude ou minha ancestralidade, ou sobre a luta por emancipação feminina nas periferias, mas em me feito bem feliz.

Kris Atomic

Além de inúmeros livros se acumulando no Kinddle e na estante, a espera de que eu finalmente conclua o assustadoramente real O Conto da Aia da autora canadense Margaret Atwood, que estou lendo aos pouquinhos e só decidi lê-lo por cona da série, que ainda não vi, e só verei depois que ler o livro todo (porque sou dessas), mas também porque encontrei referencias sobre a própria autora em um espaço feito por outra mulher.

Desde que eu consegui meu primeiro acesso a internet em 1997–98 eu sou a colecionadora de blogs e newsletter. É um universo de referencias que alias tenho planejado organizar e compartilhar, mas essa é outra história, esta agora é sobre o retorno das newsletters e dos fanzines e outras belezinhas que chegam no email da gente e levam a reflexão, diversão e descoberta.

Foi através da newsletter da Aline Valek e do material produzido por ela que cheguei as Ilustrações sobre Margaret Atwood. Recentemente mergulhei pesado em seus escritos aqui no Medium, marcando tudo que me tocava, recomendando tudo que eu gostava. Já era assinante da newsletter, mas obviamente fui guiada ao twitter, ao Literatura Ilustrada. Estou ensaiando para assinar o zine Bobagens Imperdiveis que ela produz e escreve e ilustra maravilhosamente, mas quero o pacote aurélio (ambiciosa que sou) então ficará para o próximo mês ( você pode assinar o zine aqui e a newsletter aqui). A newsletter da Aline se chama Uma Newsletter e recebi uma nova hoje, que já me pegou na primeira linha escrita e me trouxe pra cá, pra escrever, ritual que eu já tinha abandonado por simples vergonha da pessoa que eu sou (sim “o que vão pensar de mim”, mas mandei um foda-se ali em cima lembra?). Logo de cara ela manda um :

“Com frequência escolhemos péssimas bússolas para nos guiar. Depois reclamamos que estamos perdidas.”

Caralho, era comigo isso, eu acabava de pensar: Quero e vou construir uma vida “nova” pra mim, mas como me livro desta que eu construí, quando vou parar de responder coisas para anta gente, ou achar que eu preciso responder, eu não quero falar por ninguém, nem representar ninguém, se isso significa me anular e … E a newsletter chegou, foi devorada, fez muito sentido e como disse uma vez a dona de outra newsletter que eu amo a Carol Patrocinio, quando a gente recebe uma newsletter parece que as coisas são muito mais intimas. Acho que é bem isso.

Ilustração de Aline Valek — “Uma palavra depois de uma palavra depois de uma palavra é poder” — Margaret Atwood

Carol Patrocinio escreve as Polemiquinhas , newsletter sobre tudo aquilo que lhe é importante num momento x, maternidade, feminismo, politica, cultura, muita coisa e é uma dessas mulheres feitas só de coração. Receber as Polemiquinhas da Carol não só me permitem uma série de reflexões sobre os assuntos abordados, mas a mim, parece chegar na caixa de entrada cheia de cuidado REAL. As palavras desta mulher que conheci ao acaso numa mesa de debates e carreguei pra vida tem um impacto potente sobre mim e a mulher construída e em construção que sou. Recentemente li um comentário dela sobre algo que eu já estava refletindo sobre, uma bobagem na real. Eu avaliava/avaliei minha relação com o anonimato na internet, as formas de abordagem e como eu tive algumas experiências ruins com esta possibilidade do mundo virtual, o comentário era especificamente sobre o aplicativo Saharae ela disse:

quando a gente se cerca de amor a gente recebe amor.

Obviamente estava dentro de um contexto, mas eu parei ai. Do que eu havia me cercado por todos estes anos? Porque algo que me fazia tão feliz, essas conexões, a comunidade, pessoas de forma geral se tornaram o meu maior pavor a ponto de eu estar dentro de casa e dentro de mim a exatos 1 ano e 8 meses fazendo saídas estratégicas e esporádicas apenas? Quem ou o que são estas pessoas e porque aquilo que eu achava que era amor e admiração frequentemente voltava pra mim em forma de um imenso soco na cara?

Precisei me desconectar das redes, rever minhas relações e como estas se estabeleciam, reavaliar cada puxada de tapete e o que estar coisas significavam enfim pra mim. Muita coisa passou e passa pela minha cabeça depois de olhar fatos da vida através do olhar de uma outra mulher e este olhar ter refletido (eu acredito que positivamente) de forma brutal na minha vida. Ok, a frase não foi dita na newsletter, mas o que esta mulher fala é importante e não acho que seja “polemico” e sim necessário. Você pode assinar aqui e apoiar os escritos da Carol por aqui. Talvez eu esteja conseguindo fazer agora o que foi proposto na Polemiquinhas da Carol #25.

Outra newsletter que eu assino, e alias foi uma das primeiras da nova safra de boas newsletters que eu assinei foi a da Mulheres que Escrevem uma iniciativa liderada por uma equipe de quatro mulheres que hoje conta com dezenas de colaboradoras convidadas. Elas realizam a curadoria, divulgação e edição de conteúdo produzido por mulheres, além de realizar encontros em que que debatem a presença feminina no universo da escrita. Sempre descubro uma nova mulher pelo conteúdo das news, uma nova autora, alguém pra seguir. Ouvir e prestar atenção em outras mulheres deve ser mais do que uma frase de efeito num universo feminista, a gente precisa olhar pra outras mulheres, todas as outras e se permitir descobrir um mundo novo através do olhar delas. Você pode assinar a Newsletter aqui.

Jenni Konner e Lena Dunham

Um pouco antes de deixar o Blogueiras Negras, espaço de escrita negra do qual fazia parte, o meu plano era criarmos uma newsletter nos moldes da Lenny Letter. Lenny Letter é a news produzida pela Lena Dunham e Jenni Konner, também sobre assuntos diversos, com convidadas fantásticas e entrevistas que valem a pena ler. Infelizmente pra mim ela é em inglês que não é o meu forte, então é um esforço ler a newsletter toda, mas quando me perco na tradução o Google Translator dá uma forcinha. É uma Newsletter muito bem produzida, com ilustrações próprias e grana envolvida (CLARO!). Você pode assinar a Lenny Letter aqui.

Existem outras tantas Newsletters das quais quero falar, tantos blogs, tantas conversas, mas isto aqui está ficando imenso. Eu tenho pensado seriamente e transformar os escritos na minha própria newsletter só para retomar o prazer da escrita e das conexões boas. Um projeto para sobre quem eu sou ao invés dos inúmeros para comunidades inteiras. Quem sabe isto acontece mesmo, por hora só posso agradecer a estas mulheres e a tantas outras por terem me devolvido um pedaço de mim e pedir que mais mulheres escrevam, criem poadcasts, canais do youtube, blogs, instagram, criem novas referências porque elas fazem toda a diferença para nós.

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mariarita

Escrevo para não enlouquecer sobre coisas que já me enlouqueceram.

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