Meu filho se relaciona afetivamente com uma menina branca. E mesmo eu tendo me relacionado a vida toda com pessoas brancas, olhando de fora e de muito perto a relação deles, tem uma coisa que mexe demais comigo.
Ela dá pra ele a possibilidade de uma leveza fantasiosa que parece deslocar ele do peso dos dias, e como estou escrevendo só pra um pequeno grupo posso dizer “o peso de se saber um homem negro”.
Eu desconheço essa leveza, em casa todos nós só podíamos lutar e ficar vivo, lutar e ser o melhor, lutar e sobreviver, lutar, engolir o choro e fazer o que precisa ser feito. E imprimimos isso nas nossas relações, e eu já não sei em quantas casas pretas isso acontece.
Com ela , eles escutam jazz enquanto fazem janta, levam a mesa pro quintal pra aproveitar as luzinhas roxas, deitam no chão da sala de modo absurdo tipo Bella e Edward olhando um pra cara do outro.
Claro que existe aqui a leveza que o amor concede pra quem está amando, mas ele é claramente arrastado pro mundo dela , que permite aparentemente uma quantidade muito maior de possibilidades.
É bonito ver o deslocamento da existência dele, mas ela não chega no mundo dele. Diante da urgência, da violência, do esforço, das prioridades, ela fica confusa. E esse laboratório materno me faz entender muito sobre minhas escolhas e construções.
Que a gente pessoa como corpos negros usufruir da possibilidade de leveza e de sonho sem precisar ser espectadores de uma vida branca. Que a gente possa em nossas relações com outras pessoas negras, nos permitir a leveza adolescente de passar horas mirando o olhar do outro como se nada mais importasse e amanhã não fosse de fato chegar.