[aviso de gatilho: estupro]
Se eu não tirar isso do meu peito a podridão disso vai me matar, então vamos lá. E eu passei o dia me sentindo ótima.
Hoje a timeline se encheu de revolta a tarde. Estupro Culposo , quando não há a intensão de estuprar. Me faltou ar, fiquei tonta, cada figurinha que passava no feed da rede social fazia eu me contorcer.
Eu passei por 4 situações de estupro. 3 delas eu só entendi no dia 26/02/2020 , quando o extremo da violência me impediu de negar como nas outras vezes. Aos 19, aos 25, aos 32, aos 39. Solteira, casada, divorciada, pelos meus companheiros/as, por estranhos. A gente vai se fechando numa concha e tenta se proteger até de abraço de irmão. Morde a mão que alimenta.
Li a @alexandrismos falando sobre a dor, e a vergonha de ser reconhecida como “ a garota estuprada” e como isso real. Poucas foram as pessoas que souberam o que aconteceu, e só souberam quando foi violento. E sim eu me arrependi de contar, de demonstrar. Cada lagrima, cada olhar de pena, me fazia querer morrer, e correr pra parecer bem. É o lugar mais solitário que existe.
Eu não contei nem pra minha psicóloga, quando aconteceu e conforme as fichas foram caindo eu fugi dela, que provavelmente vai me ler aqui e ainda não sei como me sinto sobre isso. Minha família não sabe (não sabia) . Eu sou uma ótima mentirosa, com o sorriso mais sincero, a mulher mais forte do mundo — e isso não significa absolutamente nada.
Eu guardei as roupas do dia que tudo aconteceu até o inicio deste mês. Na esperança de não sei o que, já que escolhi não denunciar. Nas outras vezes nem sabia que eram crimes, e desta ultima eu sabia, mas tudo era/é tão surreal e horrível, um pesadelo que não acaba nunca, e eu precisava acordar desesperadamente.
A gente nunca fica bem. Eu tô numa montanha russa a tanto tempo que fui normalizando tudo isso. Mas hoje não deu. A vontade é de arrancar a pele pra ver se a gente sai nova de dentro de quem já foi.
Eu sou “ a garota estuprada” que aprendeu a não abraçar, não segurar a mão nem das pessoas que eu acho que amo, que sabe que nem em casa a gente esta segura, que tem flashs de uma porção de coisas no meio de um dia bonito, enquanto trabalha, toma banho, cozinha, escuta musica.
Não existe estupro culposo, não existe a não intensão de provocar dolo. Quem faz assume má fé. Este tipo de coisa não acontece “sem querer” . E não passa, inclusive parem de pedir pras mulheres que passaram por isso esquecer ou não pensar sobre pra não sofrerem mais, é só uma gotinha a mais num mar de culpa. Tiro a queima roupa.
Em menos de meia hora eu vou me arrepender de me expor, certeza, mas eu só funciono passando pra folha em branco o que não cabe no peito. E não tá cabendo.
Se a gente não se levantar umas pelas outras nosso destino vai ser mais triste do que já é, então hoje eu não me importo que saibam meu nome e que ele esteja ligado a este horror.