Parece até piada acordar ouvindo Eduardo e Mônica , depois de tudo que aconteceu ontem.E perceber que claro as coisas são melhores do que aparentam na superficie.
Hoje vou comprar a passagem para mais um fim de semana/ feriado feliz.Nada como mini férias.
Ontem no ônibus estava sentada ao lado de uma senhora com uns 200 anos (uns 80 e alguma coisa) e achei incrivel a magoa que ela carrega da vida e dos filhos e até dos filhos dos outros.Pra todo mundo que parava ao lado dela ( que estava sentada do lado do corredor) ela contava a história dela, que o filho não gostava dela, só fazia ela trabalhar, que um dia ela desceu do onibus no ponto errado e o filho nem sentiu a falta dela e ainda disse ” a sra sabe o caminho de casa”, que a filha dela é ruim e detesta ela, e os netos detestam ela também e só querem saber de grana , e que a filha preferida dela morreu aos 34 anos , que ela a acompanhava em tudo e nesses 3 anos depois da morte dela não havia mais motivo para viver.Achei a coisa mais triste do mundo.Quando ela me disse que estava fazendo uns exames pra saber se tinha alguma doença e que se fosse alguma coisa grave ela não iria tratar porque não fazia diferença, eu quis ter um troço.Fiquei pensando em como convencê-la de que valia a pena viver.A meses atras provavelmente eu ia virar pra ela e dizer ” Senhora , nem eu sei pra que viver, imagino o seu caso”.Mas não queria muito que ela pensasse de uma forma diferente.Mas acabei perguntando se tinha alguma coisa que ela gostava muito.Ela disse que o que ela gostava mesmo era de novela, e disse que era o melhor momento do dia dela.Acabei dizendo , que se eu tivesse a disposição e força dela ia querer ficar viva nem que fosse pra ver inumeras outras novelas.Ela riu e me contou o ultimo capitulo de “Da cor do pecado” que na opinião dela foi a melhor novela da atualidade.Ela desceu do ônibus aparentemente menos triste , mas acho que foi só aparentemente.Ficou uma sensação ruim porque eu não podia fazer nada .E uma sensação boa porque vi como eu sou feliz.
“Quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?
Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
Noutro canto da cidade
Como eles disseram
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse
– Tem uma festa legal e a gente quer se divertir
Festa estranha, com gente esquisita
– Eu não tou legal, não agüento mais birita
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
– É quase duas, eu vou me ferrar
Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard
Se encontraram então no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo
Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
De Van Gogh e dos Mutantes
Do Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com seu avô
Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda estava
No esquema “escola, cinema, clube, televisão”
E, mesmo com tudo diferente
Veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia
Como tinha de ser
Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro e artesanato e foram viajar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar
E ela se formou no mesmo mês
Em que ele passou no vestibular
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa
Que nem feijão com arroz
Construíram uma casa uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana e seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram
Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão
Só que nessas férias não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo
Tá de recuperação
E quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?”
[Legião Urbana – Eduardo E Mônica]