Faço pequenos pactos secretos. É minha forma de responder aos deuses por seus caprichos. São pequenos acordos, como: ‘se isso acontecer quando eu fizer aquilo, será porque devo continuar. Se não, devo parar.’ São jogos silenciosos. Pequenas maquinações com o acaso. Um jogo de esconde com o devir de Heráclito. Ou talvez não esconder, mas revelar a porção de acaso em cada instante. Todo momento não é sempre crucial e irrecuperável?
Hoje, há algumas horas atrás, fiz mais um desses pequenos pactos.
Como de costume, já que o improvável se assinalou, fiz meu acordo silencioso. ‘Fecharei os olhos durante dez segundos. Se, após esse tempo, ao abrir os olhos passar um táxi, é porque ainda há uma esperancinha’. Na calçada da avenida principal do bairro, em uma dia especialmente agradável, os olhos foram fechados para serem abertos dez segundos depois. Exatamente a tempo de ver uma velhinha entrar num taxi , de casaquinho rosa de cachemir (linda). Magia. Jogo. Acaso.Mas que dá um certo conforto pra cessar as lagrimas.
Estou vivendo num filme, e é um filme que trata de dualidades, daquelas que parecem só existir em literatura ou em cinema. E só é aí que há o casamento perfeito. É a história metaliterária de um pensador(Lourezo) que vive situações que resultariam num romance bem clichê. Eu sou a menina da capital estressada (Lúcia) que um dia se declara como fã para o pensador, dizendo ter se apaixonado por ele através de seus escritos. A partir de então, os dois começam uma relação intensa, que dura 1 mês. O pensador passa por um período de mudanças e desespero por causa de uma história real de sua vida na qual se baseava para questionar a si mesmo, até que decide se afastar de Lúcia. Ele deixa uma carta avisando que nunca mais verá a mulher e ela resolve largar tudo para visitar a cidade onde o pensador morava e nunca a havia levado. Desse ponto desenrola-se toda trama, com o enredo centrado em fatos surreais vividos por Lorenzo e que não tinham sido compartilhados com sua companheira.
A exploração de binômios como amor e sexo, vida e morte, luz e escuridão, certo e errado, presente e passado e a eleição de um fio condutor cronologicamente confuso, desvendando histórias paralelas, que inicialmente parecem não ter ligação, pontuam uma história que em alguns momentos dá um nó no cérebro do espectador. O exercício mental requerido não para entender, mas sim para concatenar as informações lançadas durante a história, confundem, desviam a atenção e assustam deixando tudo para um arremate final e fazendo encadeamento de seqüências desconexas.
Talvez a neurose de Lorenzo, que se dispõe a viver experiências inusitadas, como uma noite de sexo a três com uma desconhecida (da qual nasce uma extranha cumplissidade) ou uma pseudo-relação de 1 mes com uma mulher que se apresenta a ele como um fã. Na verdade, melhor seria se o título da história película fosse Lorenzo e o sexo, já que é a essa relação que o filme se remete Lúcia aparece apenas como o primeiro passo para cada descoberta do espectador e dela também, já que sua vida com Lorenzo vai se revelando como uma farsa. É quase como acompanhá-la de sua ignorância até a surpresa do passado revelado.
Só mais um filme, eu como Lucia não me arrependo de nada , não tiro a aliança do dedo porque me casei e vai ser assim casada que vou seguir em frente.’unidos’ na alma disse meu Lourenzo , que havia me dado até familia nova.Eu disse “meu” Lourenzo, mas ele é Lourenzo do mundo.Como dizia meu amigo Lê,‘If you love something let it go,if it comes back it´s yours‘, mas este não volta , mas vou esperar mesmo assim, sou perita em esperas.E no mais ficou o amor, ficaram oas dias, as horas , em que fui muito feliz.
E tem o tarô , que eu acredito muito que ele não tenha se enganado.Vai ficar tudo bem.
Talvez seja o dia, ou a mala feita, ou a aliança e o casamento de alma. Mas me parece que meus micros pactos na verdade fazem parte de um pacto maior; um que eu fiz enquanto sonhava ou enquanto me abandonava à vertigem ondulante da vida que se quer plena e absoluta. Pacto onde o prêmio não pode, ainda, ser medido.
Lúcia e o sexo
CategoriasSem categoria