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Sobre ser Lésbica e Negra

Por Maria Rita Casagrande para o Blogueiras Negras

Dentro da comunidade lésbica eu sou Negra, e dentro da comunidade Negra eu sou lésbica. Qualquer ataque contra pessoas Negras é uma questão lésbica e gay, porque eu e milhares de outras mulheres Negras somos parte da comunidade lésbica. Qualquer ataque contra lésbicas e gays é uma questão sobre direitos dos negros, porque milhares de lésbicas são Negras e milhares de homens gays são Negros. Não existe uma hierarquia de opressão.

Audre Lorde, There is No Hierarchy of Oppression

Dia desses me fizeram uma pergunta: O que você é primeiro? Lésbica ou Negra?

Como se fosse realmente necessário escolher um “lado” para lutar por meus direitos ou me identificar, ou como se eu não fosse invisível em ambos os casos.

Mas se você me pergunta com qual comunidade eu me identifico, minha resposta seria a reprodução das palavras de Audre Lorde “Dentro da comunidade lésbica eu sou Negra, e dentro da comunidade Negra eu sou lésbica.”

O único ponto que me incomoda é termos uma comunidade lésbica que luta contra a invisibilidade mas consegue invisibilizar as lésbicas negras com tamanha força. Na minha singela opinião é algo que não aceito pelo simples fato de não entender como alguém pode lutar por qualquer direito tirando o direito de outros?

Especificamente entre lésbicas que é nosso assunto aqui percebo uma falta visibilidade, reconhecimento, material informativo, sobre lésbicas negras.

Quantas vezes você que me lê agora entrou em um site ou uma fã page para curtir a imagem de uma lésbica negra? Quantas lésbicas negras você conhece? Quantas personagens lésbicas negras lhe foram apresentadas na sua série preferida (Bette Potter- the L word- embora afrodescendente não representa a realidade das mulheres negras, talvez sua irmã Kit que não era lésbica).

Hoje 25 de julho é o Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, data criada 1992, durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-caribenhas, em Santo Domingos, República Dominicana. Estipulou-se que este dia seria o marco internacional da luta e da resistência da mulher negra. Desde então, sociedade civil e governo têm atuado para consolidar e dar visibilidade a esta data, tendo em conta a condição de opressão de gênero e racial/étnica em que vivem estas mulheres, explícita em muitas situações cotidianas.

Em 2010 me entendi como lésbica, e minha primeira atitude com relação a este meu entendimento foi me informar a respeito de um mundo que até aquele momento não era o meu. Busquei livros, informações na internet, pessoas, referências, imagens e em nada que eu encontrei me permitiu algum tipo de identificação. Eu não sou a lésbica novinha vestida de Shane, não sou a moça vegetariana que anda com os cabelos esvoaçantes na bicicleta e nem aquele casal simpático com o cabelo de uma trançado no da outra mostrando uma união infinita. Ficou na época e existe até hoje uma inquietude sobre porque tantos estereótipos em meio a uma comunidade já tão estereotipada?

Encontrei no meio das mulheres lésbicas os mesmos clichês de uma comunidade que vê a mulher negra como um objeto, um bundão e um peitão para sexo 24 horas por dia, encontrei meninas com “nojo” de mulheres negras, encontrei piadas sobre “cabelos duros”.

Você que me lê agora é assim também? A cor da nossa pele te incomoda? Se apaixonar por uma mulher negra está fora dos seus “padrões”? Qual é o seu estereótipo de mulher negra? Você já experimentou digitar no Google “lésbicas famosa” e comparar com o que acontece quando você digita ” Lésbicas Negras famosas”, faça este teste. Muitas vezes preferimos varrer nossos preconceitos para debaixo do tapete quando na verdade deveríamos tirá-los do cantinho seguro e vencê-lo.

Hoje, um dia tão importante para mulheres negras eu proponho a todas as mulheres negras que leem o blog, que se apresentem, se assumam não apenas lésbicas mas negras e deixo um convite para que possamos debater esta questão aqui site. Deixo a pergunta “O que é ser lésbica e negra? Quais nossos maiores desafios?”

Eu tenho orgulho da mulher que eu sou, negra, lésbica e apesar dos inúmeros desafios e de todo o preconceito  e nada vai me fazer abrir mão dos espaços que eu conquistei, das pessoas que eu cativei e do direito a ter direitos e por eles lutar como tantas outras mulheres negras.

Uma forcinha para o Google

E só para ajudar na questão do Google, algumas lésbicas ( e Bissexuais)  negras famosas e lindas e que venham novas referencias sempre ♥

Wanda Sykes 

Wanda Sykes é uma atriz e comediante stand-up estadunidense. É conhecida por suas observações cômicas afiadas sobre eventos atuais, sobre as diferenças entre os sexos e as raças, e a condição humana.

Tracy Chapman

Tracy Chapman é uma cantora de folk, blues e soul norte-americana, vencedora por diversas vezes do Grammy Awards, tornada mundialmente famosa por suas canções “Fast Car”, “Baby Can I Hold You” e “Give Me One Reason”.

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Não sabia que ela cantava Baby Can I Hold You né… calcinhas caindo em 3, 2, 1 

Pepê e Neném

Pepê e Neném, gêmeas e que fizeram sucesso no cenário musical no fim dos anos 1990, se assumiram homossexuais em uma entrevista no programa De Frente com Gabi no ano passado.

Preta Gil

Preta Maria Gadelha Gil Moreira, é uma cantora, atriz e apresentadora, madrinha, rainha, hors concours nas Paradas Gay. Bissexual assumida tem entre suas musicas declarações como “Menina e menino, pego em estéreo” (para noooossa alegria)

Queen Latifah

Queen Latifah é uma cantora, rapper ,atriz norte-americana, vencedora de um prêmio Grammy e de um Globo de Ouro. Também foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por Chicago pelo papel de Mama Morton. Queen Latifah é rosto da Cover Girls para uma parceria no desenvolvimento de maquiagem específica para a pele negra. Negra, linda, gorda, lésbica e bem resolvida, como não amar?

CategoriasSexualidade
mariarita

Escrevo para não enlouquecer sobre coisas que já me enlouqueceram.

  1. Aline says:

    Gente, que horror. Fiz o teste do texto sobre lésbicas negras famosas, só apareceu cenas de pornografia. Fiquei até com vergonha, pois estou numa sala de computadores da faculdade e tem pessoas do meu lado.

  2. Patrícia says:

    Eu fiz a pesquisa no google também. É lastimável, mas não me surpreendeu. Acredito que esta, ainda é a sociedade que vivemos, e ainda a que vamos lutar para transformar.
    Infelizmente eu acredito que a mulher negra lésbica ainda constrói barreiras durante sua vida. Acho que essa mulher muitas vezes pensa no “sentimento repetitivo” de sofrer o preconceito duas vezes, ou seja, eu já sou negra e sofri uma vez, pra que sofrer outra vez? Eu sempre fui muito de botar a cara com tudo, não escondo que sou lésbica, mas não escancaro para todos. É realmente complicado lidar com a sociedade neste ponto, até porque sendo um pouco feminina ( mais no jeito de me vestir, do que no de agir), muitas pessoas tendem a ignorar que você é lésbica. Acredito que hoje não lidamos com uma questão de ser aquilo ou ser isso, e sim de vivenciar aquilo. A negra lésbica precisa saber que ela é uma mulher que gosta de mulheres, que aliás mulheres que talvez nunca pensaram que poderiam ficar com uma negra, infelizmente. A situação é complicada, a discussão vai longe.
    Eu espero que todas as negras lésbicas encontrem sua identidade intrínseca! Eu ainda estou ” me encontrando!”.

  3. cátia says:

    sou lésbica e me identifico como parda. vc falou no inicio do texto em ser lesbica na comunidade negra e ser negra na comunidade lésbica, mas como as lésbicas são representadas entre as mulheres negras? ou como a homossexualidade é abordada no movimento das mulheres negras?

  4. Boa tarde, queridas!

    Durante alguns anos fui colunista de erotismo no site parada lésbica e, sobre isto, gostaria de falar é que a própria palavra lésbica remete à pornografia. Enquanto procurava fotos para ilustrar meus textos, ao colocar no google “beijo lésbico” o que mais me apareciam eram cenas pornográficas heterossexuais. Daí podemos chegar ao ponto da invisibilidade lésbica e da mercantilização da homoafetividade feminina.

    Outro problema é a questão étnica. Não acredito na categoria “parda” porque penso que é uma categoria racista que tende a fazer com que as pessoas se “embranqueçam”, deslocando o preconceito para as pessoas de pele mais escura. No entanto, sou alvo de piadas quando digo ser negra – e isto acontece, principalmente, por outros negros, que só parecem me entender depois de esclarecer a minha questão com esta noção de “embranquecimento”.

    A representação de mulheres negras já é extremamente escassa. E, se pensarmos que o padrão de beleza vendido é o de mulheres brancas, louras, de olhos claros e magérrimas, a falta de representação de mulheres negras no universo lésbico se faz fundamental para a manutenção da mercantilização da sexualidade homoafetiva de mulheres para o consumo masculino.

    Não consigo definir como é ser negra e lésbica porque pareço viver em uma mundo de preconceitos sobrepostos: ser mulher, negra, lésbica, feminista, atéia… são tantos estereótipos e são todos misturados, a ponto de não se saber onde começa um e o outro termina. Mas, acredito que devemos procurar uma militância identitária que dê conta de problemas específicos de negras lésbicas. E eu adoraria fazer parte deste debate.

    Grande Beijo!

  5. olga rosa says:

    Sobre imagens. Tem uma fotografa que se chama Zanele Muholi.
    Ela tira umas fotografias bonitas.

    Se as pesquisas no google resulta sempre nessas referências, é pela herança histórica do patriarcado, lesbofobia e racismo. Gostei muito de ter lido esse texto, porque a questão do nojo é algo que tenho pensado tem tempo. Os sentimentos são construidos e incentivados com objetivos políticos. O nojo implica a dominação para desvalorizar, descartar, humilhar. De um lado existe o nojo e do outro o fetiche, e ambas tem o menosprezo (misoginia). O “fetiche lesbofobico” e o “fetiche escravista” são fatores sociais que tem objetivos políticos bem nitidos, que é a dominação dos corpos, mentes, sentimentos, psicossocial, afeto, amor entre as mulheres. É a aniquilação da gente. Eu sou uma mulher negra homoafetiva e nordestina. Quando se trata sobre debater sobre nojo e fetiches, eu vejo o quanto as pessoas olham e o modo como elas respondem depois que eu acabo de falar algo. Infelizmente, o falocentrismo, racismo e toda essa ideologia dominante ainda tem a maior legitimidade. Por isso é luta diária, e que as mulheres se unam para destrui a própria aniquilação
    VISIBILIDADE FETICHE: A NOSSA MORTE

  6. olga rosa says:

    =] Ela tira umas fotografias que mostra as relações sem a visão masculina pornografica. Tem algumas que eu não gosto não. Mas a maioria que eu vi eu achei lindas. É que depende do angulo, dos olhares das pessosa fotografadas, etc.

  7. olga rosa says:

    “É improvável que tenhamos amigos nos postos da alta literatura. A mulher negra iniciante é invisível no mundo dominante dos homens brancos e no mundo feminista das mulheres brancas, apesar de que, neste último, isto esteja gradualmente mudando. A lésbica [homoafetiva] negra não é somente invisível, ela não existe.
    Nosso discurso também não é ouvido. Nós falamos em línguas, como os proscritos e os loucos.” Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo – GLORIA ANZALDÚA

    “NOSSO DISCURSO TAMBÉM NÃO É OUVIDO”. Esse trecho do texto é de extrema importância, porque quando as homoafetivas brancas falam, elas são deslegitimmadas, quando uma mulher negra e homoafetiva fala, as pessoas nem ouvem pra deslegitimar. Porque nem tem o que deslegitimar, somos a propria deslegitimação. Se questionarmos e criticarmos sobre nojos e fetiches, se combatemos a visão do falo-patriarcal, somos loucas.

  8. olga rosa says:

    Se falamos que não seremos mais escravas, que não temos donos. Somos loucas. Se falamos que não somos personagens de filmes pornograficos para realizar fantasias dos falo-patriarcas. Somos loucas. Tanto por parte de homens quanto por parte de mulheres. Se combatemos essa lógica dominante, somos loucas.

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